Desafios do trabalhador docente do ensino superior
Claudio de Sousa Soares
Pós-graduação em Educação do Ensino Superior
claudioisan@hotmail.com.br
FAMA - Faculdade da Amazônia
Pará – Brasil
Resumo: Este estudo explorou o tema desafios do docente do ensino superior. Foi realizado um estudo bibliográfico acerca de pesquisas realizadas sobre o tema. O estudo traz à tona as relações que existem entre as modificações no mundo do trabalho, a precariedade do trabalho docente e a ausência de satisfação desses trabalhadores, podendo comprometer a qualidade de ensino devido à permanente rotatividade de professores da sala de aula e a necessidade de frequente capacitação às novas tecnologias, mas principalmente a possibilidade de ser feliz na profissão, apesar do mundo parecer assustador.
Palavras-chave: desafios, educação; trabalho; docente; felicidade.
1. Introdução
Quando estudamos os cenários da educação superior, cada vez mais ouvimos entre os estudiosos e pesquisadores é que a mudança na educação é inevitável. Inevitável também é a necessidade de mudança do perfil do docente. As novas tecnologias estão em foco e muitos têm expectativas que elas sejam a solução. E quando se fala em solução devemos perguntar para quem será essa solução, pois para que o trabalhador de educação fique em sintonia com as novas tecnologias ele deve se capacitar para usá-las e nem sempre o mesmo terá condições financeiras para isso, pois como é notório, no Brasil o profissional da educação não é bem remunerado, assim por falta de capacitação em novas tecnologias, muitos docentes poderão sair do mercado, visto que nem todas as entidades de ensino dedicam seus recursos para capacitar seus docentes, normalmente elas buscam no mercado quem já está capacitado. Entretanto precisamos nos dar conta que os docentes necessitam de novas tecnologias, pois elas quando bem empregadas podem mudar e qualificar as práticas pedagógicas, mas se forem usadas de qualquer maneira não será garantia de melhoria deste processo.
Aqui neste trabalho, serão apresentados alguns dos desafios enfrentados pelos professores no seu cotidiano frente aos seus instrumentos de trabalho, tais como os encontrados no uso das novas tecnologias de informação e comunicação, bem como o trabalho do docente que ao longo dos últimos anos vem sendo analisado em seus múltiplos aspectos e funções por ele assumidas ou levada a assumir. Então, pensar hoje este trabalho é antes de tudo redefinir o papel do trabalhador docente, que cada vez mais passa a ser relevante diante das mudanças ocorridas no mundo do trabalho, no sistema capitalista vigente.
Da mesma forma como acontece em outros ramos das atividades econômicas, o trabalho docente é ordenado segundo as normas aplicadas às empresas, numa lógica voltada para a flexibilização, eficácia e avaliação dos resultados e desempenhos. Esta reorientação no contexto dos processos de globalização e neoliberalismos traz consigo uma reconfiguração na organização escolar e consequentemente na concepção do trabalho docente e suas funções, frentes as reorientações da produção do sistema capitalista
2. Cenário Brasileiro
- A realidade no Brasil hoje ainda está muito distante do que é apresentado em outros lugares do globo, com cenários e tecnologias mais propícios. Desta forma, aqui os professores são desafiados no seu dia-a-dia a trabalharem com os instrumentos e tecnologias que lhe estão disponíveis. Veja a partir de agora alguns desafios enfrentados pelos professores no uso das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação. Estas variáveis influenciam diretamente no Ensino e também na Educação.
Os professores do ensino superior, de um modo geral, têm se confrontado com: o acelerado avanço da geração de conhecimento sobre fenômenos educacionais; disponibilidade de recursos tecnológicos, facilitadores à interlocução de diferentes partes envolvidas em determinado processo; disponibilidade e acesso facilitados a informações, bem como com a impossibilidade de processamento imediato das informações adquiridas, com cuidado e crítica necessários, de modo a inseri-las em seus conteúdos de aulas. Por outro lado, os alunos que chegam às universidades vêm cada vez mais jovens e mais imaturos. Muitos, ainda, na incerteza da opção que fizeram por ocasião do concurso de acesso ao ensino superior, se confrontam com uma metodologia diferenciada do ensino médio, o que lhes causa maior desconforto, concorrendo para este mal estar, o descompasso entre o que ouvia dizer do curso e o que, efetivamente, ele vivencia no curso escolhido.
3. Trabalho docente
Por longas datas o trabalho do profissional da educação foi cercado por um “véu sagrado”, que dava a ele a segurança necessária para desenvolver seu objeto, lhe trazia recursos necessários para garantir sua subsistência material e encaminhava solenemente ao “olimpo da felicidade”, cercando-lhe com o respeito da comunidade e deixando-lhe com uma perfeita auto-estima. Hoje muita coisa mudou o trabalho docente que é envolvido por teoria e ações práticas, produz resultados sobre o humano, requer reflexão teórica-prática permanente, aprofundamento e formação continuada. Sua complexidade envolve a interação com alunos e colegas, planejamento e gestão educacional do ensino, avaliação, transformações curriculares, etc... Neste sentido, conforme (TARDIF e LESSARD, 2005, p. 8) a docência é “...uma forma particular de trabalho sobre o humano, ou seja, uma atividade em que o trabalhador se dedica ao seu “objeto” de trabalho, que é justamente um outro ser humano, no mundo fundamental da interação humana”. Por isto ele é complexo e interativo e está em estado de tensão frente aos desafios impostos pela sociedade em que vivemos hoje, contraditória, complexa e que cada vez mais pressiona a escola e os professores para que se transformem e adquiram novas competências, aprendendo e ensinando aos alunos como lidar com uma avalanche de informações e as mídias que nos afetam a todo instante.
O espaço para execução do trabalho docente é a escola, uma organização na qual vários outros sujeitos (diretor, funcionários, pais, comunidade, etc...) intervém/interagem uns com os outros. Desta forma, reafirma-se que um professor trabalha com e sobre os seres humanos, sofrendo influências das diversas esferas e coletividades humanas. Esse profissional faz parte então de um dos processos mais importantes da vida, a Educação, que é segundo (MORAN et al., 2000, p. 12) “...além de ensinar, é ajudar a integrar ensino e vida, conhecimento e ética, reflexão e ação, a ter uma visão de totalidade. Educar é ajudar a integrar todas as dimensões da vida, a encontrar nosso caminho intelectual, emocional, profissional, que nos realize e que contribua para modificar a sociedade que temos”. Já o Ensino é entendido como um processo mais voltado à compreensão do mundo como ele é e porque ele é assim, segundo o mesmo autor, p. 12. no ensino “organiza-se uma série de atividades didáticas para ajudar os alunos a compreender áreas específicas do conhecimento (ciências, história, matemática)”. Ele fala ainda que ensinar é “...um processo social (inserido em cada cultura, com suas normas, tradições e leis), mas também é um processo profundamente pessoal: cada um de nós desenvolve um estilo, seu caminho, dentro do que está previsto para a maioria.”.
4. Escola: novo modelo
Hoje ao olhar a escola percebe-se que sua organização busca igualar-se ao conceito de produtividade, a escola acaba por reproduzir em seu interior as mesmas relações existentes no modelo fabril, onde, cada indivíduo exerce determinada função, prevalecendo à fragmentação e o individualismo exagerado. Assim a escola, não esta distante da lógica do modelo organizacional do trabalho nas empresas, onde os objetivos centralizam-se para a reprodução da força de trabalho e da lucratividade.
Dentro desse novo cenário a figura do professor se assemelha ao trabalhador de fábrica, onde tudo que se espera do mesmo é resultado e produtividade, deixando-o à mercê até mesmo de várias possibilidades de adoecimento como é possível ver na afirmação de Landini (2006, p.01):
Neste quadro, o trabalho do professor sofre alterações em sua forma de organização, seus objetivos e destinação sustentados pelas políticas educacionais vigentes. As implicações para a saúde do professor, diante das atuais formas de ser do trabalho educativo configuram um quadro problemático, que permeia desde o abandono da carreira até problemas de saúde, relacionado ao sofrimento, colocando em questão a relação entre a objetividade social, os sentidos do trabalho e a sua não realização.
Os docentes estão expostos a adoecimentos, como stress, depressão, gastrite nervosa, vistas como doenças típicas que acometem outros trabalhadores, que trabalham em ambientes sob alta pressão, competitivos e de desgastes físicos e mentais (DEJOURS, 1992).
Paralelamente ao fator adoecimento, o docente vem perdendo a autonomia no seu processo de trabalho no cotidiano escolar, passando a identifica-se como um obreiro, que apenas cumpre sua jornada de trabalho, dentro de uma empresa, perdendo o entusiasmo pelo trabalho:
Esse ‘mal-estar’ em função de outras coisas da perda da identidade, das mudanças na natureza do trabalho, das perdas salariais, tem ocasionado também a desistências, significando esta não necessariamente o abandono do ser professor, o que implica uma apatia no desempenho das funções e uma enorme sensação de fracasso (MAUÉS, 2006, p. 162).
Em recente trabalho sobre o tema a Professora Maria Isabel Alves dos Reis,da UFPA, afirma “que a sensação de fracasso, de imobilismo, que o docente se depara no cotidiano escolar, vai deteriorando a relação que ele estabelece consigo e com seu ambiente de trabalho, surgindo assim, no meio educacional, a síndrome de burnout, em que o docente perde o sentido do trabalho, e não encontra satisfação no mesmo e acaba por desistir dele’.
Esta síndrome atinge trabalhadores que lidam diretamente com pessoas, têm como características, a exaustão profissional, onde os mesmos sentem que chegaram ao limite, do que poderiam dar de si no trabalho; a
despersonalização, em que as relações estabelecidas com o outro, são frias, distantes e impessoais, muitas das vezes agressivas e a falta de envolvimento pessoal no trabalho, em que o trabalhador perde habilidade para realizar o trabalho (Codo, 2006, p 237).
5. Formação e desejo de ser feliz.
Em um passado bem recente em nosso estado o saber na graduação era de responsabilidade de poucos especialistas e até de alguns graduados que se destacavam nas suas profissões. Assim acontecia nos curso de Ciências Contábeis, Filosofia e até mesmo no curso de Direito, isso tudo na renomada Universidade Federal do Pará. Hoje o que se percebe é um quadro bem diferente e tanto na UFPA como nas outras universidades e nas tantas faculdades existente na nossa região o que se vê é uma procura pelos profissionais com mestrado e/ou com doutorado. Dessa forma aqueles profissionais que não conseguiram somar nos seus currículos os títulos de mestre ou doutor, hoje estão saindo do mercado, pois é sabido que aqui na nossa região metropolitana tem instituição de ensino superior que já demitiu todos os profissionais de ensino que tinham apenas a especialização. Neste cenário percebe-se outro desafio: a formação pessoal como meio para alcançar a felicidade.
O mercado globalizado exige cada vez mais resultados deixando o trabalhador docente do ensino superior com mais dificuldades para elevar sua auto-estima, pois, diferente do pensamento antigo de que o trabalho estava associado ao pecado, hoje a realização do trabalho está associada à felicidade. Essa idéia é atual e notória. Quem chega na recepção de uma escola de formação profissional da cidade de Belém, a Escola Salesiana do Trabalho, pode entender essa idéia numa frase escrita por um padre do século XIX, Dom Bosco, que diz: “ O homem nasceu para o trabalho e somente quem trabalha com amor e assiduidade tem a paz no coração.” Essa notoriedade pelo trabalho também é percebida na música Guerreiro Menino de Raimundo Fagner:
Um homem também chora Menina morenaTambém deseja colo, Palavras amenasPrecisa de carinho, Precisa de ternuraPrecisa de um abraço, Da própria canduraGuerreiros são pessoas, São fortes, são frágeisGuerreiros são meninos, No fundo do peitoPrecisam de um descanso, Precisam de um remansoPrecisam de um sonho, Que os tornem perfeitosÉ triste ver este homem, Guerreiro meninoCom a barra de seu tempo, Por sobre seus ombrosEu vejo que ele berra.Eu vejo que ele sangraA dor que traz no peito, Pois ama e amaUm homem se humilha, Se castram seu sonhoSeu sonho é sua vida, E a vida é o trabalhoE sem o seu trabalho, Um homem não tem honraE sem a sua honra, Se morre, se mataNão dá pra ser feliz. Não dá pra ser felizNão dá pra ser feliz. Não dá pra ser feliz
6. Conclusão
Sabendo-se que a globalização é inevitável é certo que todos os profissionais terão que se adequar ao mundo e não o mundo ao profissional. Na atividade da profissão de educação também é certo que todos deverão ir em busca de reestruturação, pois não é possível fechar-se em casulos, visto que
A profissão de educador exige interação com o mundo. O educador tem que estar aberto ao novo, pois é ele que tem a missão de desmitificar vários mudos para todos aqueles que desejam a compreensão do mito.
Por mais que realidade mundial ou local pareça assustadora o trabalhador da educação tem que enfrentá-la, pois ele é poderoso mesmo sem se dar conta disso. O profissional docente necessita se atirar aos desafios, tem que se habituar às novas tecnologias, pois com isso estará apto a ser bem aceito nos seus espaços. O vê do sagrado que anteriormente envolvia o educador, hoje pode ser substituído pelas novas tecnologias, novos procedimentos e novas concepções do saber, pois o educador não necessita de mistérios, pois ele tem dentro de si algo que é mais importante para desenvolver a sua missão: o amor pelo saber. Enquanto houver amor pela educação, certamente o profissional docente vencerá, pois o amanhã será diferente.
REFERÊNCIAS:
- CODO, W. (Org.). Educação: carinho e trabalho. Petrópolis: Ed.Vozes, 2006.
- Guedes-Bruni, RR (2005) O desafio do ensino superior na educação científica e no indissociável
estímulo a pensar. Natureza on line 3(2): 27–29. [online] http://www.naturezaonline.com.br
- LANDINI, S. R. Professor, Trabalho e Saúde: as políticas educacionais, a materialidade histórica
e as conseqüências para a saúde do trabalhador-professor. Regulação Educacional e Trabalho
Docente-UERJ – Rio de Janeiro.
- MAUÉS, O. Profissão e Trabalho Docente em Tempos de Reforma da Educação superior. In: GEMAQUE, R.
M. O. LIMA, R. N.(Orgs.). Políticas Públicas Educacionais: o governo Lula em Questão. Belém: CEJUP,
2006.
- POCHMANN, MARCIO. In: LIMA, MARCELO A. Apostila da Disciplina “Cenários da Educação Superior”, Ananindeua. 2009.